Esta é uma palestra dada por Swami Vishnu Devanandaji, fundador do "International Sivananda Yoga Vedanta Centers" e um dos principais pioneiros na divulgação do Yoga no Ocidente, desde 1957, quando foi enviado com esse propósito pelo seu mestre, Swami Sivananda Saraswati. Nesta ocasião, Swamiji expõe o significado da iniciação (mantra diksha) dentro de uma linhagem espiritual (Guru Shishya Parampara) a um grupo de alunos ocidentais que se preparavam para recebê-la. Assim como Swami Sivananda, Swamiji concedia iniciação a todos que o pedissem, independente de pré-requisitos ou condições especiais. |
Iniciação significa literalmente “ignição”. Quando você deseja acender uma fogueira, como começa? Você começa com pequenos gravetos e pedaços de papel, aos pouquinhos acrescentando pedaços de lenha cada vez maiores, até conseguir uma grande fogueira! Porém, quanto fogo você utilizou no início? Somente um palito de fósforo, não é mesmo? Um palitinho de fósforo é capaz de acender toda a energia de fogo contida na lenha. O fogo provém daquilo, e nós não somos nada mais do que energia dormente. Assim como a lenha, o fogo está presente em estado latente. Toda a lenha que é adicionada ao fogo se torna parte dele, aumentando a sua energia. Esse é todo o segredo da iniciação, que consiste em utilizar o mantra como um meio para iluminar ou acender seu coração... Mesmo antes que o planeta Terra surgisse, a energia do mantra já existia em um determinado estado. Newton nunca inventou a gravidade. Ele simplesmente descobriu a existência de uma energia chamada gravidade. Edison também não criou a eletricidade. A eletricidade já estava lá. O que ele descobriu foi a existência de uma certa energia chamada eletricidade. Da mesma forma, essa energia mântrica sempre existiu, mesmo antes da Criação. Tudo está em um estado vibratório. Todas as coisas são como ondas de energia. O seu próprio corpo vibra a uma freqüência de onda específica. Você aprende a afinar-se com essas freqüências de onda a fim de obter uma energia, poder ou força específicas. O mantra é um tipo de freqüência carregada de simbolismos místicos e espirituais. A sua mente poderá eventualmente entrar em ressonância com o mantra. E nesse instante você obtém um estado de consciência cósmica ou meditação. Eis a fórmula secreta. Cada indivíduo deve possuir um mantra que sirva ao seu temperamento em particular. Mas nós não podemos ter quatro milhões de mantras... Assim como para quatro milhões de pessoas não poderíamos cozinhar um número equivalente de receitas! Qual é o tipo de comida que você prefere? Você prefere algumas preparações mais do que outras, não é mesmo? O que foi servido hoje durante o desjejum? Granola, iogurte, frutas, pão e manteiga. Alguns de vocês tomaram mais iogurte, outros mais pão com manteiga e outros granola, não é mesmo? Embora a mesma comida tenha sido servida a todos, você ainda preferiu uma variedade dessa comida mais do que a outra. Mas qual é o propósito? Para nutrir o seu corpo você come granola, mais e mais. Pois acontece a mesma coisa com os mantras. Não existe tal coisa como um mantra superior ou inferior. Todos os mantras são iguais, com igual poder de eficácia. Assim como o fogo, todo o fogo queima. Claro, alguns tipos de madeira queimam mais, se não estiverem úmidos. Mas mesmo a madeira úmida termina por queimar. Na Índia nós sabemos qual mantra é mais apropriado para cada tipo de mente, porque nós conhecemos as deidades. Cada nome possui uma forma e cada forma possui um nome. Nós não podemos utilizar qualquer tipo de palavra como mantra; a forma da palavra utilizada será automaticamente refletida no seu estado mental. Segundo a psicologia do Yoga, a sua mente assume a forma dos objetos nos quais você pensa ou medita. Se você pensa em uma laranja, a sua mente toma a forma dessa laranja para que você possa ter uma percepção mais clara da laranja. Essa é a lei. Disso você deve lembrar-se muito claramente. Então, se eu fico pensando "laranja, laranja, laranja, laranja" a minha mente acaba tomando a forma de uma laranja. Só então a visibilidade e percepção se tornam possíveis. Se não existisse a forma da laranja, mesmo com a sua repetição de "laranja, laranja, laranja", não haveria impacto na mente. A mente não saberia do que se trata, seria apenas uma palavra. Da mesma maneira, a forma sozinha não é suficiente. Se você visualiza a forma sem o nome laranja, essa forma também não causará nenhum efeito na mente. Você necessita de nome e forma. Se você quer ver "fogo", sem a forma do fogo na sua mente, pode repetir "fogo, fogo...". Ainda assim, não poderá pensar em fogo. Nome e forma vêm juntos. Se não fosse desse jeito, você poderia usar qualquer palavra para a meditação. Usaria "flor, flor, flor, flor...", mas o seu corpo e mente não podem ser elevados por uma flor, da energia proveniente da flor, da radiação vinda da flor. A freqüência de onda da flor e o objeto flor não obteriam um impacto permanente na sua mente. Somente palavras espirituais podem elevá-lo. Essas palavras espirituais são chamadas mantras. O Ser Supremo é Um, e se chama OM. O mais elevado mantra é OM: A-U-M. Todos os outros mantras emanam de OM. Todos os mantras os quais nós possamos pensar, de fato todas as línguas, se encontram ocultas nessa única sílaba cósmica: OM. O significado desse OM é na verdade muito difícil para uma mente ordinária compreender. Por essa razão, nós raramente iniciamos alguém em OM, embora seja o mais alto mantra. Isso porque as pessoas ainda não possuem um intelecto elevado e sutil para meditar em uma forma abstrata como OM... Mesmo assim, você pode experimentar meditar em Om se você quiser... Não há nenhuma contra- indicação, pois ele é abstrato. Todos os outros mantras são mais concretos, por terem um nome e uma forma especificas. Seria você um tipo mais Krishna, Ráma, Shiva ou Devi? Esses são os tipos básicos de personalidade. É você um chefe de família ou uma dona de casa, interessado em esposa ou marido, filhos, em uma boa família saudável, em união familiar? Você deseja paz no lar e uma verdadeira relação espiritual com seus familiares, você pensa que as crianças devem respeitar os seus pais... Se esse é o estilo de vida com o qual você é mais identificado, então você possui um tipo de personalidade Ráma. Ráma é o marido e filho ideal, o Deus que destrói os demônios restabelecendo a lei e a ordem. Ele é ideal em tudo, perfeito. Ele tem apenas uma única esposa para toda a sua vida, não tendo nunca olhado para nenhuma outra mulher durante esse tempo. Essa atitude atrai responsabilidades familiares. Se você tem este temperamento, medite em Ráma. Receba iniciação no Ráma Mantra. Outras pessoas são mais introspectas. Elas devem ir ao monte Kailasa, como o Senhor Shiva, que vive perpetuamente nas altas geleiras dos Himalaias, longe de toda confusão. É nos picos nevados que o Senhor Shiva vive e medita. Qualquer devoto interessado deve se deslocar até ele, pois ele próprio não se interessa em correr atrás de nenhum devoto. Ele é um outro introspecto... Se você possui essa atitude, mesmo sendo chefe de familia ou pessoa de negócios, se o seu temperamento é mais circunspeto e a vida social não faz muito sentido para você, querendo apenas estar só e em paz, deve então ser iniciado no Mantra de Shiva. Uma grande maioria das pessoas corresponde ao tipo de Krishna. Krishna tem todas as características para cada ser humano, desde a infância até uma idade avançada. Em uma só vida, ele desempenhou praticamente todos os papéis que se possa imaginar... Ele foi um Rei, estadista, músico e professor. Qualquer coisa em que você pense, ele tinha a habilidade de mostrá-la em si próprio, em uma vida. Muitas pessoas com esse tipo de temperamento se identificam com os vários papéis desempenhados por Krishna. Assim, nós concedemos o mantra de Krishna se você se encaixa nesse perfil. Outras pessoas são mais identificadas pela Mãe. Elas sentem mais afinidade com o poder criativo da energia divina. Elas tem mais amor e compaixão, como uma mãe universal, estão mais próximos do coração materno. Deus também se manifesta como mãe, não somente como pai. Deus engloba todos aspectos, inclusive o feminino. Dessa forma, podemos meditar nesse aspecto através do mantra de Durga ou Devi. Uma vez escolhida a deidade, o mantra e o Guru, não os mude mais durante a sua vida. Você não troca de professor, e não troca de deidade. Isso é para toda a sua vida. Se você vai receber iniciação, não tente mudar ou tomar um outro mantra. Isso não é bom para você. Se você não acredita em seu Guru (professor ou mestre espiritual), então não tome mantra daquele Guru. Procure encontrar um professor no qual você tenha fé e confiança. Você necessita ter certos sentimentos em relação ao seu Guru para receber os benefícios da iniciação. Somente assim o Guru poderá acendê-lo. Não é nenhum tipo de mantra comercial que nós estamos dando a você. Não estamos interessados em tomar dinheiro ou o que seja de você. É um antigo costume de oferecer dakshina ao professor. E esse costume ainda prevalece, pois os professores não possuem nenhum tipo de ganho ou capital. Aquilo que lhe oferecem com os seus corações, os professores o utilizam para o bem da Humanidade. Os estudantes podem oferecer qualquer coisa: frutas, flores, dinheiro, aquilo que eles possuírem ou puderem para contribuir ao bem estar do professor ou da sua organização. Isso é permitido. Mas você não pode vender um mantra sob encomenda e pedir “Eu quero tal e tal coisa pelo mantra...”. Essa demanda não pode ser feita pelo professor. É contra todo crescimento espiritual. Nenhum mantra pode ser vendido nem ser fabricado, assim como não existe nenhum novo mantra. Nós não podemos criar nem dar diferentes mantras a cada indivíduo. Isso não é possível. Ninguém pode fazê-lo e se auto-denominar um Guru espiritual. É freqüentemente perguntado: “Devemos manter os mantras secretos?”. Você deve mantê-lo secreto no sentido de não expô-lo a todo o mundo de uma forma banal. Porém, se alguém quer saber mais e existe um real propósito por trás da curiosidade, você pode dizer, não há nenhum mal... Esse é o único segredo. Então, o que você faz depois da iniciação ao mantra? A iniciação sozinha não é suficiente. Ela apenas acende o fogo. E nós estamos utilizando apenas um pequeno palito de fósforo para acender o fogo, não é mesmo? Bem, suponhamos que acabamos de acender o fogo com um fósforo, mas não temos os gravetos, papel e outros materiais para mantê-lo. O que acontece? Ele se apaga... O fósforo e a ignição não possuem mais nenhum valor então. Imediatamente após acender o fogo, você deve adicionar mais e mais lenha para torná-lo cada vez maior e maior... Você faz uma bela fogueira que lhe dará força e energia, não apagando tão facilmente. Quanto mais vezes você repetir, mais o fogo cresce. Chegará, então, um nível, um nível muito elevado onde você está quase meditando a um nível transcendental. Naquele nível, a sua mente automaticamente entra em meditação. No momento em que você começa Om Namah Shivaya, a sua mente vai direto a um estado elevado de meditação. Não existe mais som em nenhuma forma, vocal ou telepática. Somente o som transcendental vibra. A vibração de Om Namah Shivaya, Om Namah Shivaya continua intensamente. O poder daquela energia está agora vibrando a um nível muito alto; aquilo é chamado de meditação. Como principiante, você inicia o mantra verbalmente. Então, parte para a repetição mental. Essa é mais forte que a verbal. Eventualmente, você entra lá onde o som e o nome se fundem num estado telepático. Então você transcende mesmo esse penetrando em estado de energia invisível no qual você se torna um com a forma na qual você medita. Você e Shiva, você e Krishna, se tornam um e o mesmo. Você se torna o objeto da meditação, assim como a sua mente toma a forma da laranja ao ver a laranja. Você se torna Krishna ao ver Krishna, ou se torna Shiva. Mas eles não são diferentes deidades. Shiva não é diferente de Krishna, nem Krishna diferente de Ráma ou Ráma diferente da Devi, ou Deusa. Eles são todos uno. De acordo com a sua relação e temperamento, você escolhe aquele em que é mais fácil meditar. Repita o mantra após receber a iniciação. Não o deixe cair. Medite regularmente. Compreenderam? OM TAT SAT |
Extraído do livro Swami Vishnu Devananda - Portraits of a Yogi e traduzido por Gopala (Julio Falavigna). Todos os direitos reservados ao International Sivananda Yoga Vedanta Centers. |
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