sexta-feira, 23 de março de 2012

COMO DECIFRAR O MAPA ASTRAL





A vida é uma viagem. E o mapa astral é o mapa de onde queremos ir. Detalha-nos as direções que queremos explorar, os desafios que vamos encontrar e os presentes que temos para dar aos outros.

De início os indicadores podem ser muito intimidantes. Planetas, signos, aspectos, casas são apenas o básico. Depois temos a acrescentar os asteróides, os midpoints, as regências, os trânsitos e as progressões, e a astro*carto*grafia, sinastria e numerosas outras técnicas e aplicações. Onde começar? E onde acabar? O melhor para encontrar sentido para isto tudo é compreender em como tudo faz parte de um ciclo.

Quando olhamos para os componentes astrológicos como uma parte de um processo evolutivo que faz, o puzzle que parece desconexo entra então numa perspectiva de uma mesma coisa. Este é o último objetivo no estudo da Astrologia. Entrar numa relação consciente e do Todo - as relações entre as diferentes partes de nós próprios, dos outros, e com o próprio Universo.

A configuração do mapa ilustra este objetivo. O código cósmico da viagem da vida é estruturado num círculo, o antigo símbolo da totalidade. Combinado com as quatro direções isso forma a mandala, o símbolo arquétipo da integração. "Mandala" tem origem na palavra do sânscrito que significa círculo ou centro. As Mandalas são dispositivos centrais e revelam tanto o centro da nossa individualidade, como a ligação à Fonte, ao Centro Maior.

Os componentes principais da astrologia (signos, planetas, casas, aspectos) derivam deste grande círculo. Os doze signos do zodíaco ("roda da vida") abrangem um círculo arquetípico de desenvolvimento. Cada signo assinala qualidades particulares necessárias à evolução da consciência. Da identidade pessoal (Carneiro) até à consciência transpessoal (Peixes), cada signo expande a aprendizagem do signo que o antecedeu e a preparação para a fase seguinte. Cada um deles correlaciona o anterior, o seguinte, o oposto e a todos os outros signos pelas suas posições relativas na progressão.

As doze casas ligam-se umas às outras um pouco da mesma forma que os doze signos, construindo em cada uma e progredindo em experiências. Elas diferem no ambiente que representam e nas atividades que mais diretamente conduzem às energias simbolizadas pelos planetas e signos. Mas a progressão das casas assemelha-se também à dos signos. Cada um está relacionado com a anterior, a posterior e a oposta, bem como a todas as outras.

A posição relativa dos planetas simboliza também a evolução progressiva da consciência. Quanto maior a distância do Sol, maior necessidade de consciência para a expressão das qualidades. Cada planeta é uma porta ou entrada para uma compreensão mais interna, que apenas pode surgir através de um conhecimento de um nível anterior.

Os aspectos formam também um ciclo progressivo de desenvolvimento. A Conjunção é o início de um novo ciclo, tal como Carneiro e o Ascendente simbolizam novos começos. Uma oposição é análoga ao signo oposto, Balança e o Descendente, o equilíbrio entre eu e o outro. As fases da Lua ilustram maravilhosamente esta progressão. A Lua muda constantemente, num desenvolvimento ordenado, crescente e minguante, que, tal como as Estações, faz eco do ciclo dos signos, planetas e casas.

A compreensão deste processo fundamental e contínuo é um dos pontos chave na Astrologia. Compreender o poder dos símbolos e as suas qualidades multidimensionais é outro dos aspectos. Os símbolos são como cores e tonalidades que estimulam o inconsciente e abarcam muitos níveis de significado e interpretação. Temos que usar tanto o nosso lado direito como esquerdo do cérebro para decifrarmos o mapa. Em última instância a Astrologia é uma ferramenta de acesso à sabedoria intuitiva, conduzindo a um desenvolvimento de consciência que transcende a dualidade e conduz ao Todo. Síntese. Peixes. Mas primeiro temos que passar através de todo o zodíaco...

Pistas para o explorador astrológico do Zodíaco:

Carneiro -> Manter uma "mente curiosa" o mais possível. Lembre-se que pode aprender sempre mais, especialmente no básico. Ler o mais que possível, mas da sua maneira.

Touro -> Usar os sentidos. Reparar nos arquétipos à sua volta. Uma flor não lhe lembra Vênus? E uma televisão não lhe lembra Urano?

Gêmeos -> Astrologia é uma linguagem. E tal como uma linguagem, quanto mais lhe falar, mais ela lhe fala. Pense em imagens, símbolos, metáforas. Uma imagem vale mais do que 1000 palavras.

Caranguejo -> Sinta. Repare nas suas mudanças quando a Lua muda de signo. Sinta a diferença entre o sonho de Peixes e a ação de Carneiro.

Leão -> Divirta-se! Faça astrodrama com os amigos ou na sala de aulas. Aprenda o seu argumento cósmico dando voz a cada um dos planetas e escrevendo-lhes os diálogos. Jogue em diferentes cenários!

Virgem -> Analise, analise, analise. Coloque de lado e volte a juntar tudo. Comece com um planeta, depois junte um signo, uma casa e os aspectos, até que comece a formar um "quadro".

Balança -> Compare o seu mapa com o de outros. Imagine o que seria ter esses mapas, ou ser o oposto daquilo que você pensa que é.

Escorpião -> Seja um detetive. Pesquise as datas de nascimento de amigos, amantes e parentes e veja como os símbolos encaixam na sua experiência e percepção deles e do que eles dizem a respeito de si próprios.

Sagitário -> Descubra a sua verdade. Lembre-se apenas que cada pessoa tem também as suas verdades. Muito mais importante do que ter a resposta certa é fazer a pergunta certa.

Capricórnio -> Use a Astrologia responsavelmente. O que diz ou como o diz pode magoar ou ferir. Se alguém lhe pedir para ver o mapa, saiba os seus limites e respeite-os.

Aquário -> Globalizar. Encontre ou forme um grupo de estudos. Assista a palestras e conferências de Astrologia. Trabalhe para reformar a imagem da Astrologia.

Peixes -> Tenha compaixão. Entenda que tudo tem o seu lugar na criação e que se faz o melhor possível. Relaxe, tenha fé, sonhe e abra o seu coração.


 Flávio Pedro dos S. Pita
(Traduzido do original de Stephanie Austin)
ttp://horoscopovirtual.bol.uol.com.br

quarta-feira, 21 de março de 2012

INDIA - AGRA / O TAJ MAHAL DO AMOR ETERNO


 
______  O Taj Mahal do amor eterno  ______
                 INTRODUÇÃO  ____________________________________________________
                APENAS mentes brilhantes como as de Albert Einstein poderiam qualificar a estupidez humana com tamanha genialidade: "Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que diz respeito ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta."
                Até ler a história do Taj Mahal eu não presumia que a falta de discernimento de alguns indivíduos pudesse produzir uma estupidez de tamanha grandeza.  Vá lá que a história da humanidade já tenha originado estúpidos suficientes e que tenha a tenha abastecido de fundamentos bastantes para não haver dissonância entre o que afirmou o cientista genial e de quase todo o resto do inconsciente coletivo. Todavia, eu jamais poderia supor que um dia alguém tivesse a idéia de demolir o Taj Mahal para leiloar seus pedacinhos! Sobretudo um indivíduo que já o tivesse conhecido.
______  O gracioso, enredado estilo mogol do Portal do Taj Mahal  ______
                Após o declínio do império mogol o Taj Mahal foi completamente desprezado e esquecido. Tal negligência fez brotar a idéia mais absurda que um Governador Geral do império britânico na Índia pudesse ter durante o domínio inglês naquele país: desmantelar peça por peça o mausoléu e vender as pequeninas frações em leilões!  Lord Bentick - de cujo cérebro surgiu a estúpida idéia - felizmente não encontrou estúpidos suficientes para arrematarem os milhões de pedacinhos em que seria transformado o Taj e levar a cabo seu estúpido intento.
 
______  Placas de puro mármore branco incrustadas com pedras semi-preciosas  ______
                Afortunadamente a humanidade não é feita apenas de estúpidos e toda história tem outro lado: Lord Curzon - Vice-Rei de 1899 a 1905 (*) - protegeu o Taj, restaurou-lhe a dignidade e glória e inciou um processo de manutenção que anos depois levaria o monumento a ser tombado pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade.  Hoje parece que apenas a natureza poderá destruir o fabuloso Taj.
  ______  Fontes, canais e espelhos d'água: jardins em estilo charbagh (**) do Taj Mahal  ______     
NOTA (*) George Nathaniel Curzon, 1.° Marquês Curzon de Kedleston, estadista britânico, foi Governador-geral da Índia entre 1899 e 1905, secretário de estado do Ministério dos Negócios Estrangeiros e líder do Partido Conservador. Desempenhou numerosos cargos políticos, acadêmicos, honoríficos e nobiliárquicos no pariato do Reino Unido. Deu o seu nome à linha Curzon, proposta linha de armistício de 1920 entre a Polónia e a República Socialista Federada Soviética da Rússia. Escreveu numerosas obras sobre geopolítica. Foi presidente da Royal Geographical Society. Foi casado duas vezes e causou escândalo o seu namoro com a famosa escritora britânica Elinor Glyn. Comprou e restaurou na íntegra o Bodiam Castle, em East Sussex.
NOTA (**) Charbagh (chahār bāgh) é a denominação que se dá ao jardim em estilo persa, cujo layout tem quatro lados didividos por caminhos e por canais de água. Em persa "Chār" significa 'quatro' e "bāgh", 'jardim'.
                          DE NOVA DELHI a AGRA   ___________________________________
                        MAL podíamos conter a ansiedade.  Na manhã daquela terça-feira o desjejum fora bem mais rápido que o de costume: em instantes estaríamos na estrada em direção a Agra, segunda cidade de nosso roteiro. E em algumas horas, da varanda de nosso quarto no Oberoi Amarvilas avistaríamos o Taj Mahal.
 
______  Oberoi Amarvilas - Agra  _______
                                Nossa primeira experiência em auto-estradas na Índia (uma “atração turístico-antropológica adicional”) era o caminho para o encontro com o Taj Mahal.  Saber que o carro já nos esperava no estacionamento nos compeliu a acelerarmos o ritmo do delicioso café-da-manhã e nos despedirmos de Delhi com saudades e reconhecimento àquela cidade onde começou a interminável sucessão de encontros surpeendentes desta nossa incrível viagem à Índia. 

______  Oberoi Amarvilas - Agra (foto da galeria oficial do hotel)  _______
 
  ______  Auto-estradas na Índia: uma atração adicional  ______  
                         Pela auto-estrada NH2, o carro conduzido por Anil - nosso “motorista-anjo da guarda” - vencia os primeiros 210 km do percurso à velocidade média de 60 Km/h, o que anunciava o gasto de de 5 horas até Agra.  Distância tão curta para tempo tão longo é apenas mais um dos paradigmas aniquilados na Índia, onde não há relação ocidental entre distância e velocidade nas estradas e ferrovias. 
                       Trafegar por rodovias na Índia é uma atração turística adicional, uma experiência tão inusitada quanto divertida, tão e curiosa e exótica quanto tudo mais o que se encontra no país. 
 
  ______ Cenas de estradas: do inusitado ao inacreditável, tudo acontece  ______ 
                    TAJ MAHAL. O AMOR ETERNO de Shah Jahan por Mumtaz  ________
                    Uma das maravilhas do mundo, símbolo da Índia, seu monumento mais popular. Nós já tínhamos precisa noção de sua importância e imponência, havíamos nos preparado para o que veríamos, mas durante o percurso de Delhi a Agra devoramos todos os guias, livros e fotos que compramos na livraria do Imperial Hotel de Delhi.
______   Leitura, o melhor preparo para a Índia  ______
                       Na manhã seguinte precisaríamos acordar às cinco e em uma hora deveríamos estar a postos na fila aguardando a abertura dos portões para visitação. Assim o fizemos. Segundo a tradição, às seis horas da manhã a temperatura e a luz do sol tornam a visita ao Taj, para além de confortável, mais impactante.  A espera na fila somava ansiedade e alimentava nossas mentes. Todavia nada seria capaz de nos fazer supor os efeitos colaterais do impacto de ver pela primeira vez um dos monumentos mais magníficos já criados pelo homem. Nenhuma palavra ou imagem conseguem reproduzir a dimensão da beleza da fusão perfeita das arquiteturas persa e indiana. Estávamos prestes a ver uma das obras  mais monumentais, lindas e românticas que já tivemos o privilégio de conhecer.  
______  Eram seis da manhã e já estávamos no Taj Mahal  ______    
                        Para cada hora do dia o Taj assume suas diferentes cores: no alvorecer adquire o tom perolado; ao meio-dia uma brancura deslumbrante; nas noites de luar um esplendor lúgubre e cintilante.  Todavia, nas primeiras horas da manhã e nas últimas da tarde é que o Sol o ilumina com suavidade e ele assume seu tom mais encantador: um rosa tão pálido quanto delicado.
 
       ______ O estilo mogol: influências persa e indiana no fabuloso Darwasa ______
                        O choque do primeiro encontro ocorre com todos e estar receptivo a perceber tanto as nossas quanto as emoções da coletividade que nos rodeia fez do impacto do primeiro encontro uma experiência emocional, intelectual e física inesquecível e incomparável.  A imponência do Taj, ali emoldurado pelo lindo arco de arenito vermelho do darwaza - o portão principal - tira o fôlego de qualquer indivíduo, arrebata por uns momentos suas emoções e tira dele suas reações. O que sentimos não é possível traduzir.  Alguma alguma coisa acontece com os nossos corações quando cruzamos o portão e avistamos a alvura do imponente mausoléu.
   
                       Como num porta-retratos, o desenho do arco principal emoldura e enquadra com perfeição o mármore branco e reluzente do imponente Taj.  Como mágica forma uma das mais belas composições e introduz o expectador a uma das mais notáveis obras arquitetônicas do planeta, a uma das mais belas visões que se podem ter. O portão magnífico não serve apenas para proteger o monumento, ele prepara o visitante para viver o momento de maior impacto: o primeiro encontro com o Taj Mahal.  Ainda que possa parecer exagero, é o portão que evita contratempos aos que não estejam lá em condições cardíacas, respiratórias e circulatórias ideais. 
 ______  No Darwasa, incrustações de mármores vermelho, branco e preto  ______
                        A maior parte das construções do complexo e ao redor do mausoléu de mármore branco são de arenito avermelhado, e são o portão e o pátio de acesso a ele que formam o ápice da arquitetura do complexo, cuja complexidade supera qualquer outro monumento similar em qualquer parte do mundo. Tudo é uma incrível demonstração de beleza, de forma e conteúdo arquietônico e decorativo.
 
 ______  Chatris, cúpolas sobre quatro pilares. Estilo hindu, construção islâmica ______
                         Extasiado, sentindo a respiração paralizar por uma fração de tempo, levanto as mãos para o céu e comento com minha doce Emília, ela também vitima dos efeitos do mesmo enlevo: Mas o que é isso? O que é isso?!”.  Como se reverenciasse aquela chocante obra prima, retomo o ar, relaxo os braços e contemplo aquela beleza monumental como se ela de um sonho viesse.  Não sei por quanto tempo permaneci completamente inebriado, tocado e emocionado com mais aquele privilégio que eu vivia. Assim que voltei ao normal, aidna dominado por aquela dimensão de beleza, minha fascinação resultou no maior número de cliques por cena que jamais minha câmera experimentou. Olhando para os lados percebi que aquela visão do Taj Mahal provoca o mesmo grau no inconsciente coletivo e deixa, primeiramente congelados, depois completamente acelerados os corações e mentes de seus visitantes.
 
                        Refeito do impacto, a magnitude da beleza de linhas tão equilibradas parece tocar a todos indistintamente. Percebo os que chegam e param seus passos abruptamente assim que cruzam o portão. O arrebatamento é comum a todos. Solidários na mesma emoção, todos emocionam-se na mesma proporção.
 
                        Como se protegesse um tesouro, o grande portal com 30 metros de altura, com elaboradas inscrições de versículos do Alcorão, dá ou impede o acesso ao jardim mogol, cuja simetria das linhas dos canais de água separa o jardim em quarteirões e parece afastar o Taj ainda mais de nossos olhos. Representando os Jardins do Paraíso islâmico - onde quatro rios conduzem água, leite, vinho e mel - o túmulo da amada do imperador fica ainda mais suntuoso refletido nos espelhos d´água.
 ______  O belíssimo estilo mogol do Portão de acesso ao mausoléu  ______ 
  
                         O Taj representa ao mesmo tempo uma das mais românticas e trágicas histórias de amor de todos os tempos, mas não deixa de surpreender que os indianos mantenham uma visão tão romântica do monumento, cujo herói e heroína eram muçulmanos.
   
                         E são as mulheres que melhor expressam esse encantamento. Talvez porque sejam mais românticas que os homens, que percebam mais sensivelmente o que motivou sua construção, que melhor identifiquem-se com ele, que assumam a sensualidade de suas curvas e que notem o romantismo das intenções do imperador apaixonado e enlouquecido.  Chamam seus maridos e sentam-se para a foto inesquecível diante do Taj.
  
                        É possível que o Taj lhes toquem os corações com maior intensidade, pois são elas que aparentam querer tirar dele uma lasquinha, como se atraissem um pouco daquele amor tão eterno e grandioso.  Correm para fotografá-lo com alegria, enfileiram-se no único ponto em que é possível segurá-lo como um pendente entre a ponta dos dedos.
 
                        Disputam com alguma impaciência um lugar ao banco, ansiosas para sentarem-se onde possam ser fotografadas e eternizadas no único momento em que a majestade do Taj fica em segundo plano. 
 ______  Às mulheres o Taj Mahal parece tocar melhor o coração...  ______ 
                          Seus olhares são doces e ternos, quase não conseguem esconder uma ponta de inveja. Parecem tocar e acariciar a jóia rara às margens do Rio Yamuna.  O ar esmaecido pela névoa da manhã dá um brilho etéreo, de outro mundo ao mausoléu, nos tira o fôlego, toca o coração. É lindo o Taj Mahal do amor.
  
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                         A Índia é um país de personalidade notável, e que apesar de suas inúmeras invasões estrangeiras, de sua longa colonização ocidental, manteve um caráter incorruptível. É um tão complexo e grandioso que tentativas de compreendê-lo tornam-se inúteis para nós ocidentais.  É muito estranho, por exemplo, que jovens indianos com doutorado no exterior submetam-se ainda hoje a se casarem com mulheres escolhidas por seus pais, algumas delas ainda na infância. E que as moças tenham que passar o resto de suas vidas ao lado de um homem que só conhecerão no altar, bem depois de iniciada a cerimônia de casamento. A tradição que impõe tais regras, ainda que respeitáveis, parece desumana, ainda que longe na escala de desumanidades que se percebe na Índia. E todos parecem não ter forças para desafiar esses hábitos.
 
                          Uma grande civilização se define também pela magnificência do seu patrimônio arquitetônico e a Índia - além de não fugir à regra - está entre os que possuem alguns dos mais importantes na expressão de grandes empreendimentos como o Taj Mahal, uma das sete novas maravilhas do mundo.
     
                         Todavia, esta é apenas mais uma entre tantas extravagância com que o país instiga seus visitantes. Nenhuma, todavia, parece ser tão exótica e monumental quanto o Taj Mahal, ao menos no campo da História. Não há contradições quanto ao fato de tratar-se de um monumento ao amor, o maior e mais famoso deles, um eterno monumento ao amor eterno. É de tal ordem grandioso - tanto na forma quanto no conteúdo - que a obra prima da arquitetura e toda sua beleza estão além do alcance das palavras, das definições conclusivas. Ao menos daqueles que a meu exemplo já não conhecem palavras para qualificá-lo. 
   
                         Não é apenas sua extravagante beleza arquitetônica, mas as dimensões da razão do que está por trás de sua construção: o amor imenso e o sofrimento atroz que levou um imperador - Shah Jahan - a construir um mausoléu para sua amada - Mumtaz - por quem apaixonou à primeira vista e alimentou um amor obsessivo: durante quase toda sua vida, a preferida do imperador esteve grávida.  E morreu ao dar à luz seu 14º. filho em 19 anos de vida conjugal.

     ______  Shah Jahan e sua amada Mumtaz ______
                         A história teve um fim trágico: o ambicioso filho de Shah Jahan - Aurangzeb -  impaciente com os desvarios do pai, tomou-lhe o trono e o aprisionou no Forte de Agra até o fim de sua vida. Não sem antes matar seus irmãos. Pelos últimos 8 anos de vida, confinado num cômodo com vista para o mausoléu, o imperador passou o tempo pensando em sua esposa sepultada sob o enorme domo.
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Uma lágrima no rosto da eternidade (*)
                          Ainda que romântico, o monumento ao amor é fúnebre. Não é um templo religioso, tampouco um palácio, mas um mausoléu.  O mais brilhante e triunfal monumento funerário do mundo, uma escandalosa, arrogante demonstração de poder e riqueza que custou uma fábula e levou à ruína a sede de um reino. 20 mil trabalhadores ocuparam-se por 22 anos na sua construção, comandados por centenas dos mais famosos arquitetos e artistas do império persa e mongol, liderados pelo amor do imperador à sua Mumtaz, mulher de sangue mongol, religião islâmica, persa de cultura e língua.
 
                         O imperador Shah Jahan -  tão competente conquistador e administrador quanto contrutor - pertencia à dinastia que criou um império glorioso e sofisticado na  Índia . E o “Taj Mahal” - uma variação curta do nome de Mumtaz Mahal - sua última obra de uma série absolutamente grandiosa, cuja  morte da amada o levou à loucura.
  
                         Arquitetônicamente o Taj Mahal representa a epítome da arquitetura mogol, a síntese das melhores tradições nas construções hindus-islâmicas. Circulando ao redor do mausoléu percebemos as discretas, espantosas incrustrações, assim como caminhando pelos jardins do complexo notamos os lindos reflexos do Taj nos seus lagos e canais artificiais. Eles representam o Pari Darwaza, paraíso, lar dos anjos da religião islâmica. Dentro da câmara fria do cenotáfio, uma impressionante tela de mármore delicadamente esculpido tem as mais lindas incrustrações de todo o complexo.
 
                          Há dois momentos no dia melhor apropriados para a visitação do Taj Mahal: ao nascer e ao pôr-do-sol, quando as melhores incidências angulares da luz do Sol possibilitam que o monumento revele tesouros escondidos: as pedras semi-preciosas incrustradas no mármore branco que cintililam refletindo a luz e revelam seus mais espantosamente belos momentos.
  
                         A câmara interior tem muito mais do que elementos decorativos: o trabalho de incrustação – comumente denominado pietra dura - é uma lapidação de pedras preciosas e semipreciosas incrustradas em mármore. A câmara interna tem a forma de um octógono permitindo a entrada por cada face externa, embora só a porta da frente para o jardim seja hoje utilizada.
                        
                        As paredes internas têm cerca de 25 metros de altura e terminam numa falsa cúpula interior, decorada com representações do Sol.  Oito arcos definem o espaço e quatro arcos centrais superiores formam varandas e janelas para o exterior, cada uma com uma tela intrincada executada em blocos únicos de mármore, chamados "jali", preciosamente esculpidos como se fossem uma tela de renda.
      
                         Um lustre egípcio doado por Lord Curzon em 1909 pende do teto sobre as sepulturas e lhes dá um ar fantasmagórico, ainda que as pedrinhas de ouro, prata, pedras semi-preciosas e mármore preto dêm todas as cores aos desenhos florais em verde, vermelho, ouro e prata.
    
                         Ali no interior do mausoléu os khadimi cuidam e protegem a riqueza do monumento e fazem com que as coisas estejam tão originais quanto como foram feitas há séculos.  Sem câmeras, na penumbra, apenas a luz das lanterninhas de bolso dos guias revelam os incríveis detalhes das incrustrações mais intrincadas e magníficas que já vi.
 
                       O mais desenhado, fotografado, filmado e admirado monumento romântico do mundo é a menina dos olhos do patrimônio arquitetônico indiano e sua arquitetura volumosa, realçada pela alvura do mármore branco e refletente que o recobre, tem uma aura sensual compatível com as curvas da amada do imperador. A multidão de turistas indianos e de alguns estrangeiros que o fotografam de todos os ângulos parece perceber tal sensualidade e romantismo no equilíbrio das linhas.
 
                        Os melhores mármores, rubis e jades decoram o túmulo mais lindo e grandioso que alguém poderia ter. O mosaico de pedras preciosas é tão fino e detalhado que uma peça ornamental - uma flor, uma folha, uma voluta - pode ter até 70 pequenos fragmentos. E arquitetonicamente e ornamentalmente tudo se combina, integrando-se em perfeita proporção simétrica e agradável harmonia, como é próprio de uma obra prima. Mas beleza do conjunto só pode ser plenamente assimilada quando admirada de longe. 
                       
                         É assim que se revelam todos os seus efeitos visuais, desde a exemplar mistura de linhas horizontais, verticais, de retas e curvas, à combinação perfeita de cheios e vazios. Tudo parece resplandescer ainda melhor no mármore branco que produz grandiosos efeitos à luz natural. 
                       O Xá e Mumtaz se apaixonaram à primeira vista quando tinham 15 anos e casaram-se aos 20, em maio de 1612,  e por 19 anos foram inseparáveis e tiveram 14 filhos.  Eles estavam juntos em uma expedição militar ao sul de Agra quando ela teve seu 14 º filho, uma menina, que tragicamente provocou sua morte aos 39 anos. E olhando para o Taj Mahal, conhecendo sua história, compreendemos porque dele sairam os mais penetrantes testemunhos que eternizaram esse amor:
    
"Que não seja fúnebre, pois deverá celebrar a curta vida de um amor. A sua beleza e a sua graça hão de recordar eternamente a mulher, sem jamais envelhecer. Será um sonho de mármore edificado na fronteira delicada entre o real e o irreal, como a própria paixão." (*) 
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Elementos formais e decorativos do Taj Mahal
                        Os elementos formais e decorativos são empregues repetida e consistentemente por todo o complexo, unificando o vocabulário estético. As principais características do mausoléu refletem-se no resto da construção:
   
                        1) Finial: remate ornamentado das cúpulas usado nos pagode asiáticos igualmente. 2) Decorações de lótus: esquemas cujo motivo é a flor de lótus, esculpidos nas cúpulas. 3) Amrud: Cúpula em forma de cebola, típica na arquitectura islâmica e que, mais tarde, seria usada na Rússia. 4) Tambor: base cilíndrica da cúpula, que serve de apoio e transição formal sobre o resto do edifício. 5) Guldasta: agulha decorativa fixa no rebordo das balaustradas. 6) Chattri: galeria de colunas e cúpula, utilizado principalmente em monumentos de carisma comemorativo. 7) Cenefas: painéis esculpidos sobre as arcadas. 8) Caligrafía: escritura estilizada de versos do Corão sobre as arcadas principais. 9) Arcadas ou portais: também denominados pishtaq (palavra persa para os portais). 10) Dados: painéis decorativos sobrepostos às parede da fachada frontal do edifício.
FONTE (Wikipédia)
Taj Mahal - Desenho esquemático dos elementos decorativos - FONTE: Wikipédia  ______  
                         Não é preciso ser arquiteto nem conhecer os aspectos relacionados ao equilíbrio e à simetria das boas formas arquitetônicas. As linhas do Taj são inquestionavelmente perfeitas, seja no equilíbrio, seja na beleza.  Uma cúpula central rodeada por quatro outras menores, minaretes em cada uma das pontas de um quadrado imaginário, jardins ao seu redor afastando qualquer linha que possa agredir o equilíbrio de sua simetra, tudo forma uma composição magnífica refletida num grande lago. E tudo foi pensado pelo imperador para proteger sua amada após sua morte: os minaretes são discretamente inclinados para fora, para que no caso de um terremoto não caiam sobre o túmulo, talvez o mais impressionante segredo revelado com o tempo.
   
                         Tudo parece tão extremamente belo, assentado sob um motivo tão digno e romântico, que dissimula até quase apagar a cruel realidade escondida por trás de cada pedacinho de mosaico aplicado, de cada retalho de mármore que reveste o magnífico Taj. Shah Jahan consumiu muito da riqueza do reino ao construir o monumento. O poder mogol estava em declínio e o imperador acabou afastando-se de suas atividades relacionadas com o Estado, o que possibilitou que seu filho Aurangzeb tomasse o poder e prendesse seu pai na  torre do um Forte de Agra.
  
                        Mas há um outro lado - cruel e terrível - que se encerra em cada tijolo: contam que Shah Jahan mandou cortar todos os dedos das mãos de todos os operários da obra, para que ninguém a reproduzisse. História ou lenda, ninguém consegue afirmar. E mil elefantes foram necessários para trazerem os blocos de mármore com duas toneladas cada de pedreiras a 300 quilômetros de distância. E seu filho precisou assassinar seus irmãos que opunham-se ao golpe.
   
                          Aurangzeb impôs regras rigorosas e deu a sim mesmo o título de "Alamgir", conquistador do mundo. Tornou-se o imperador mais expansionista do império mogol na Índia e o levou a um período de grande riqueza. Mas como tudo tem seu preço e outro lado, também experimentou os maiores períodos de conflitos e rebeliões que culminaram com o fim do império depois de sua morte em 1707.
 
NOTA (*) do poeta indiano Rabindranath Tagore (1861-1941), que escreveu “O Taj Mahal é uma lágrima de amor na face da eternidade.
Em 2001 a New 7 Wonders Foundation (www.new7wonders.com), elegeu algumas obras para serem eleitas os mais belos monumentos que aidna se podem ver. 90 milhões de pessoas votaram elegendo seus preferidos e as Pirâmides de Gizé passaram a ter o título de “maravilha” honorária.
 
                        Lateralmente ao mausoléu, no extremo do complexo, às margens do Rio Yamuna, há dois grandes monumentos paralelos aos muros leste e oeste e de frente respectivamente para os lados direito e esquerdo do Taj. Ambos têm linhas arquitetônias equivalentes, como se um fosse o reflexo um do outro.
                         O da esquerda é uma mesquita e o outro o jawab, isto é, o que não tem minarete, feito para equilibrar a composição, mas há registros históricos de que servia à hospedagem de convidados do xá. Os pisos do jawab são ornados com desenhos geométricos e os da mesquita com desenhos que representam os tapetes persar destinados à oração.
  
                        Há algumas especulações que apontam para indícios de que o imperador tivesse planos de construir uma imagem espelhada do Taj do outro lado do Rio Juma, que seria revestido com mármore preto e serviria como seu próprio mausoléu. Mas não há registros sérios, o que recomenda que encaremos esta afirmação como mais uma das lendas que cercam o Taj Mahal.
 
                         Pesquisas encontraram as fundações do que seria o jardim onde ficaria o Taj negro, mas trabalhos sérios e escavações arqueológicas transformaram as afirmações em especulações.  Hoje o jardim é tido apenas como um local de onde o Taj pudesse ser observado e para evitar que grupamentos desordenados fossem construídos nas redondezas.
                        MEHTAB BAGH  – A outra margem do rio  _______________
                        Uma das vistas mais interessantes do mausoléu fica exatamente neste jardim, do outro lado do Rui Yamuna. Ali o silêncio parece adicionar imponência a uma das sete novas maravilhas do mundo, ainda que a sujeira do rio lhe subtraia beleza. (**) 
  
                        Ele está relacionado na 16a posição entre as 28 atrações tuirísticas mais visitáveis de Agra, segundo o Lonely Planet. Em qualquer outro guia estaria avaliado como “veja se puder”. Portanto, só vale conhecê-lo se você optar por explorar melhor a cidade do que seu hotel.
                         Na margem norte do Rio Yamuna o jardim chamado Mehtab Bagh - ou Jardim da Lua Cheia - foi feito para lembrar um oásis florido e arborizado, com pavilhões sombreados, fontes e piscinas, fundamentalmente para protejer o Taj da expansão urbana ao seu redor.  Atualmente se parece mais com um pomar do que qualquer outra coisa. 

                        Os 25 hectares transformaram-se no modelo de um projeto para estabelecer áreas verdes de proteção em torno do Taj Mahal, tornando-se um magnífico jardim que usou uma tecnologia revolucionária de irrigação trazida do Irã.  Segundo historiadores a grande piscina octogonal no centro do terraço serviu para refletir o mausoléu, mas segundo a cultura popular era onde as mulheres do reino iam banhar-se. Como decorrência das inúmeras inundações do rio, a estrutura remanescentes é bastante ruinapenas ruína, sendo que apenas uma das quatro torres de arenito que marcavam os cantos do jardim, continua parcialmente de pé, assim como outros vestígios de pavilhões e do aqueduto que alimentava o jardim.
  
                         Para nós valeu a pena conhecer o lugar e apreciarmos a vista da parte de trás do Taj, uma visão incomum e única. O lugar é tranquilo e sem turistas, meio ermo, portanto recomenda-se ir com guia e de dia. A side-trip foi mais uma das maravilhosas sugestões da Emília baseadas no seu inseparável guia Lonely Planet, que assim como tantas outras tornaram nossa viagem ainda mais enriquecedora.
  
NOTA (**) Os Jardins Suspensos da Babilônia, as Pirâmides de Gizé, a Estátua de Zeus no Olimpo, o Templo de Artêmis em Éfeso, o Mausoléu de Halicarnasso, o Colosso de Rodes e o Farol de Alexandria, todos sasbem, são as sete maravilhas do mundo antigo. Relacionadas pelo engenheiro grego Philon de Bizâncio serviam para orientar os gregos da antiguidade a escolherem os melhores destinos de viagens.  Com exceção das Pirâmides, todas estas obras não existem mais e tornaram-se ou referências históricas ou restos arqueológicos.   




http://interata.squarespace.com/jornal-de-viagem/2010/12/21/india-agra-o-taj-mahal-do-amor-eterno.html

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