quinta-feira, 14 de outubro de 2010

KALI

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Das deusas do hinduísmo, Kali é a mais incompreendida. Deusa Kali Ma, libertadora de almas, suprema feminina manifestação, que liberta-nos do nosso próprio ego de prisão.
Fora de todas as formas de Devi (Deusa), Kali é a mais compassiva, pois ela fornece moksha (libertação) aos seu filhos. Ela é consorte do Deus Shiva, senhor da meditação, deus dos humildes, protetor dos mendigos, senhor do Yoga. Dentro da trindade hindu, Shiva faz o papel de destruidor da criação.
Shiva e Kali estão sempre juntos. Ele, o aspecto imutável do supremo, Ela aparentemente mudando o aspecto do mesmo.
Shiva é pura consciência cósmica, Kali é energia cósmica. Não é possível criar sem ela. Shiva não pode manifestar sem o poder de Kali. Kali não pode funcionar sem a consciência de Shiva.
Kali é a dança do tempo e criação interminável dissolução do Universo apoiado por Shiva que é absolutamente pura forma de sensibilização. Ele é o eterno. Testemunho do seu consorte divina do teatro. É através dela que a auto-realização ocorre, como Ela o perfeito espelho, o reflexo de sua infinita forma.
Na mitologia hindu, Kali é a manifestação da Deusa Durga. Segundo a lenda um demônio chamado Mahishasura, ganhou a confiança de Shiva, depois de uma longa meditação.
Shiva ficou agradecido por essa devoção e lhe concedeu a dádiva de que cada gota de sangue produziria milhares como ele, que não poderia ser exterminados nem pelos homens, nem pelos deuses. Com isso esse demônio ganhou forças, iniciando um reinado de terror e vandalizando o mundo.
Pessoas foram exterminadas cruelmente, até mesmo os deuses. Precisando fugir de seu reinado. Os deuses reuniram-se e foram reclamar para Shiva as atrocidades do demônio. Shiva ficou furioso e sentindo-se traído, abriu seu terceiro olho, saiu dele uma energia transformado-se em uma mulher terrível. Shiva aconselhou que os outros deuses tmbém se concentrassem em suas shaktis (energia feminina) e liberá-las. Todos estavam presentes quando uma nova deusa nasceu e se chamou a princípio de Durga, a Mãe Eterna. Contendo oito braços, os deuses a vestiram com suas armas de poder e montada no leão se transformou em Kali.
Kali, cega pelo desejo de destruição. Atacou o demônio e seu exército, exterminando um por um, em um rio de sangue estabelecendo novamente a ordem no mundo.
Após ela iniciou sua Dança da vitória sobre os corpos mortos. Com essa dança todos os mundos tremiam, sob o tremendo impacto de seus passos.
Shiva em muitos momentos, precisou se deitar entre os corpos e deixá-la pisoteá-lo sendo o único modo de trazê-la a consciência e evitar que o mundo desabasse.
Como Klika, ou Anciã, ela governa todas as espécies de morte, mas também todas as formas de vida, representando três divisões do ano hindu, as três fases da lua, três segmentos do cosmo, três estágios da vida, três tipos de sacerdotisas (Yogini, Matri e as Dakinis) e seus templos. Os hindus reverenciam o trevo como emblema divindade tríplice de Kali. Eles dizem que se não podemos amar a face negra de Kali, não podemos esperar por evolução.
Kali comanda as gunas, ou linhas da criação, preservação e destruição, e incorpora o passado, presente e o futuro. As gunas simbolizam linhas vermelhas, brancas e pretas. Ela controla o clima ao trançar os cabelos. Sua roda karmica devora o próprio tempo.
Ela proíbe a violência contra a mulher.
A lua minguante está associada a Kali. Domínio dos instintos, do indiscriminado.
É o momento lunar mais negado no psiquismo da mulher e está severamente vigiado para que não venha a tona. É o feminino sombrio, mas que também pode trazer iluminação à consciência. É mais uma passagem, ligado a processos de transformação. A energia de Kali simboliza o poder destruidor e criador reprimido em muitas mulheres que no séculos passados se adaptaram a um modelo socialmente determinado de comportamento de culpa. Só nos últimos anos é que a força da mulher começou a retornar com seu poder pessoal.
No panteão das divindades tântricas, Kali mencionada a primeira das dez grandes forças cósmicas. Porque de alguma forma, é ela que começou o movimento da Roda do Tempo Universal.
Kali é equivalente a deusa grega Atena, que por muitos séculos foi honrada como deusa das batalhas. O mito de adoração de Kali, reflete as forças primitivas da natureza. Estas forças estão associadas com os ciclos da mulher e estão representadas no útero feminino, o caldeirão do renascimento.
Kali é deusa escura, cuja escuridão nada tem a ver com o “mal”. Muitos povos vêem o mundo com a dicotomia do claro e escuro, bem e o mal. Mas para o hinduísmo não existem estas oposiçãos. No pensamento hindu não existe o mal, mas sim o karma. Uma lei física de causa e efeito e todos os resultados karmicos são resolvidos através de múltiplas reencarnações.
Também Kali é uma polaridade que é evidenciada no “yin e “yang”, no homem e na mulher, no racional e no intuitivo, na sabedoria e na ignorância. É ainda a interativa passagem entre o real e o imaginário, Oriente e Ocidente, o campo e a cidade, a causa e o efeito, Kali uma deusa mítica de memória ancestral devidamente integrada à nossa Era.
Existe imagens de Kali sinistras, com sua aparência aterradora, banhada de sangue. Em meio à torrente de vida, da seiva daqueles que foram sacrificados, ela precisa para dar vida a um processo de incessante de geração de novas formas de existência, em sua manifestação como mãe do mundo, para que na qualidade de ama de leite do mundo possa amamentá-las em seus seios e oferecer-lhes o bem que é repleto de nutrição.
Kali chega em nossas vidas para dizer que é hora de perdermos o medo da morte, seja física, de um relacionamento, um emprego, de um amor. Nossos, medos não podem nos impedir de dançarmos a Dança da Vida, portanto o melhor é aprendermos a enfrentá-los e reconhecer-mos que eles fazem parte de nossa evolução. Só alcançaremos a totalidade quando resgatarmos aspectos que abrimos mão em função do medo. Quando reconhecermos nossos medos e lhes der nomes, estaremos a um passo de superá-los. Não enfrentá-los é parar no tempo e espaço. E morrer sem ter alcançado a esperança de um novo renascer.
Om Namah Shivaya!

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