______ O Taj Mahal do amor eterno ______
INTRODUÇÃO ____________________________________________________APENAS mentes brilhantes como as de Albert Einstein poderiam qualificar a estupidez humana com tamanha genialidade: "Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que diz respeito ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta."
Até ler a história do Taj Mahal eu não presumia que a falta de discernimento de alguns indivíduos pudesse produzir uma estupidez de tamanha grandeza. Vá lá que a história da humanidade já tenha originado estúpidos suficientes e que tenha a tenha abastecido de fundamentos bastantes para não haver dissonância entre o que afirmou o cientista genial e de quase todo o resto do inconsciente coletivo. Todavia, eu jamais poderia supor que um dia alguém tivesse a idéia de demolir o Taj Mahal para leiloar seus pedacinhos! Sobretudo um indivíduo que já o tivesse conhecido.
______ O gracioso, enredado estilo mogol do Portal do Taj Mahal ______
Após o declínio do império mogol o Taj Mahal foi completamente desprezado e esquecido. Tal negligência fez brotar a idéia mais absurda que um Governador Geral do império britânico na Índia pudesse ter durante o domínio inglês naquele país: desmantelar peça por peça o mausoléu e vender as pequeninas frações em leilões! Lord Bentick - de cujo cérebro surgiu a estúpida idéia - felizmente não encontrou estúpidos suficientes para arrematarem os milhões de pedacinhos em que seria transformado o Taj e levar a cabo seu estúpido intento.______ Placas de puro mármore branco incrustadas com pedras semi-preciosas ______
Afortunadamente a humanidade não é feita apenas de estúpidos e toda história tem outro lado: Lord Curzon - Vice-Rei de 1899 a 1905 (*) - protegeu o Taj, restaurou-lhe a dignidade e glória e inciou um processo de manutenção que anos depois levaria o monumento a ser tombado pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade. Hoje parece que apenas a natureza poderá destruir o fabuloso Taj. ______ Fontes, canais e espelhos d'água: jardins em estilo charbagh (**) do Taj Mahal ______
NOTA (*) George Nathaniel Curzon, 1.° Marquês Curzon de Kedleston, estadista britânico, foi Governador-geral da Índia entre 1899 e 1905, secretário de estado do Ministério dos Negócios Estrangeiros e líder do Partido Conservador. Desempenhou numerosos cargos políticos, acadêmicos, honoríficos e nobiliárquicos no pariato do Reino Unido. Deu o seu nome à linha Curzon, proposta linha de armistício de 1920 entre a Polónia e a República Socialista Federada Soviética da Rússia. Escreveu numerosas obras sobre geopolítica. Foi presidente da Royal Geographical Society. Foi casado duas vezes e causou escândalo o seu namoro com a famosa escritora britânica Elinor Glyn. Comprou e restaurou na íntegra o Bodiam Castle, em East Sussex.
NOTA (**) Charbagh (chahār bāgh) é a denominação que se dá ao jardim em estilo persa, cujo layout tem quatro lados didividos por caminhos e por canais de água. Em persa "Chār" significa 'quatro' e "bāgh", 'jardim'.DE NOVA DELHI a AGRA ___________________________________
MAL podíamos conter a ansiedade. Na manhã daquela terça-feira o desjejum fora bem mais rápido que o de costume: em instantes estaríamos na estrada em direção a Agra, segunda cidade de nosso roteiro. E em algumas horas, da varanda de nosso quarto no Oberoi Amarvilas avistaríamos o Taj Mahal.
______ Oberoi Amarvilas - Agra _______
Nossa primeira experiência em auto-estradas na Índia (uma “atração turístico-antropológica adicional”) era o caminho para o encontro com o Taj Mahal. Saber que o carro já nos esperava no estacionamento nos compeliu a acelerarmos o ritmo do delicioso café-da-manhã e nos despedirmos de Delhi com saudades e reconhecimento àquela cidade onde começou a interminável sucessão de encontros surpeendentes desta nossa incrível viagem à Índia.
______ Oberoi Amarvilas - Agra (foto da galeria oficial do hotel) _______
______ Auto-estradas na Índia: uma atração adicional ______
Pela auto-estrada NH2, o carro conduzido por Anil - nosso “motorista-anjo da guarda” - vencia os primeiros 210 km do percurso à velocidade média de 60 Km/h, o que anunciava o gasto de de 5 horas até Agra. Distância tão curta para tempo tão longo é apenas mais um dos paradigmas aniquilados na Índia, onde não há relação ocidental entre distância e velocidade nas estradas e ferrovias.
Trafegar por rodovias na Índia é uma atração turística adicional, uma experiência tão inusitada quanto divertida, tão e curiosa e exótica quanto tudo mais o que se encontra no país.
______ Cenas de estradas: do inusitado ao inacreditável, tudo acontece ______
TAJ MAHAL. O AMOR ETERNO de Shah Jahan por Mumtaz ________Uma das maravilhas do mundo, símbolo da Índia, seu monumento mais popular. Nós já tínhamos precisa noção de sua importância e imponência, havíamos nos preparado para o que veríamos, mas durante o percurso de Delhi a Agra devoramos todos os guias, livros e fotos que compramos na livraria do Imperial Hotel de Delhi.
______ Leitura, o melhor preparo para a Índia ______
Na manhã seguinte precisaríamos acordar às cinco e em uma hora deveríamos estar a postos na fila aguardando a abertura dos portões para visitação. Assim o fizemos. Segundo a tradição, às seis horas da manhã a temperatura e a luz do sol tornam a visita ao Taj, para além de confortável, mais impactante. A espera na fila somava ansiedade e alimentava nossas mentes. Todavia nada seria capaz de nos fazer supor os efeitos colaterais do impacto de ver pela primeira vez um dos monumentos mais magníficos já criados pelo homem. Nenhuma palavra ou imagem conseguem reproduzir a dimensão da beleza da fusão perfeita das arquiteturas persa e indiana. Estávamos prestes a ver uma das obras mais monumentais, lindas e românticas que já tivemos o privilégio de conhecer.
______ Eram seis da manhã e já estávamos no Taj Mahal ______
Para cada hora do dia o Taj assume suas diferentes cores: no alvorecer adquire o tom perolado; ao meio-dia uma brancura deslumbrante; nas noites de luar um esplendor lúgubre e cintilante. Todavia, nas primeiras horas da manhã e nas últimas da tarde é que o Sol o ilumina com suavidade e ele assume seu tom mais encantador: um rosa tão pálido quanto delicado. ______ O estilo mogol: influências persa e indiana no fabuloso Darwasa ______
O choque do primeiro encontro ocorre com todos e estar receptivo a perceber tanto as nossas quanto as emoções da coletividade que nos rodeia fez do impacto do primeiro encontro uma experiência emocional, intelectual e física inesquecível e incomparável. A imponência do Taj, ali emoldurado pelo lindo arco de arenito vermelho do darwaza - o portão principal - tira o fôlego de qualquer indivíduo, arrebata por uns momentos suas emoções e tira dele suas reações. O que sentimos não é possível traduzir. Alguma alguma coisa acontece com os nossos corações quando cruzamos o portão e avistamos a alvura do imponente mausoléu. ______ No Darwasa, incrustações de mármores vermelho, branco e preto ______
A maior parte das construções do complexo e ao redor do mausoléu de mármore branco são de arenito avermelhado, e são o portão e o pátio de acesso a ele que formam o ápice da arquitetura do complexo, cuja complexidade supera qualquer outro monumento similar em qualquer parte do mundo. Tudo é uma incrível demonstração de beleza, de forma e conteúdo arquietônico e decorativo.______ Chatris, cúpolas sobre quatro pilares. Estilo hindu, construção islâmica ______
Extasiado, sentindo a respiração paralizar por uma fração de tempo, levanto as mãos para o céu e comento com minha doce Emília, ela também vitima dos efeitos do mesmo enlevo: “Mas o que é isso? O que é isso?!”. Como se reverenciasse aquela chocante obra prima, retomo o ar, relaxo os braços e contemplo aquela beleza monumental como se ela de um sonho viesse. Não sei por quanto tempo permaneci completamente inebriado, tocado e emocionado com mais aquele privilégio que eu vivia. Assim que voltei ao normal, aidna dominado por aquela dimensão de beleza, minha fascinação resultou no maior número de cliques por cena que jamais minha câmera experimentou. Olhando para os lados percebi que aquela visão do Taj Mahal provoca o mesmo grau no inconsciente coletivo e deixa, primeiramente congelados, depois completamente acelerados os corações e mentes de seus visitantes.
______ O belíssimo estilo mogol do Portão de acesso ao mausoléu ______
______ Às mulheres o Taj Mahal parece tocar melhor o coração... ______
Seus olhares são doces e ternos, quase não conseguem esconder uma ponta de inveja. Parecem tocar e acariciar a jóia rara às margens do Rio Yamuna. O ar esmaecido pela névoa da manhã dá um brilho etéreo, de outro mundo ao mausoléu, nos tira o fôlego, toca o coração. É lindo o Taj Mahal do amor.A Índia é um país de personalidade notável, e que apesar de suas inúmeras invasões estrangeiras, de sua longa colonização ocidental, manteve um caráter incorruptível. É um tão complexo e grandioso que tentativas de compreendê-lo tornam-se inúteis para nós ocidentais. É muito estranho, por exemplo, que jovens indianos com doutorado no exterior submetam-se ainda hoje a se casarem com mulheres escolhidas por seus pais, algumas delas ainda na infância. E que as moças tenham que passar o resto de suas vidas ao lado de um homem que só conhecerão no altar, bem depois de iniciada a cerimônia de casamento. A tradição que impõe tais regras, ainda que respeitáveis, parece desumana, ainda que longe na escala de desumanidades que se percebe na Índia. E todos parecem não ter forças para desafiar esses hábitos.
______ Shah Jahan e sua amada Mumtaz ______
A história teve um fim trágico: o ambicioso filho de Shah Jahan - Aurangzeb - impaciente com os desvarios do pai, tomou-lhe o trono e o aprisionou no Forte de Agra até o fim de sua vida. Não sem antes matar seus irmãos. Pelos últimos 8 anos de vida, confinado num cômodo com vista para o mausoléu, o imperador passou o tempo pensando em sua esposa sepultada sob o enorme domo.
_____________________________________________Uma lágrima no rosto da eternidade (*)
Ainda que romântico, o monumento ao amor é fúnebre. Não é um templo religioso, tampouco um palácio, mas um mausoléu. O mais brilhante e triunfal monumento funerário do mundo, uma escandalosa, arrogante demonstração de poder e riqueza que custou uma fábula e levou à ruína a sede de um reino. 20 mil trabalhadores ocuparam-se por 22 anos na sua construção, comandados por centenas dos mais famosos arquitetos e artistas do império persa e mongol, liderados pelo amor do imperador à sua Mumtaz, mulher de sangue mongol, religião islâmica, persa de cultura e língua.
Arquitetônicamente o Taj Mahal representa a epítome da arquitetura mogol, a síntese das melhores tradições nas construções hindus-islâmicas. Circulando ao redor do mausoléu percebemos as discretas, espantosas incrustrações, assim como caminhando pelos jardins do complexo notamos os lindos reflexos do Taj nos seus lagos e canais artificiais. Eles representam o Pari Darwaza, paraíso, lar dos anjos da religião islâmica. Dentro da câmara fria do cenotáfio, uma impressionante tela de mármore delicadamente esculpido tem as mais lindas incrustrações de todo o complexo.
As paredes internas têm cerca de 25 metros de altura e terminam numa falsa cúpula interior, decorada com representações do Sol. Oito arcos definem o espaço e quatro arcos centrais superiores formam varandas e janelas para o exterior, cada uma com uma tela intrincada executada em blocos únicos de mármore, chamados "jali", preciosamente esculpidos como se fossem uma tela de renda.
O mais desenhado, fotografado, filmado e admirado monumento romântico do mundo é a menina dos olhos do patrimônio arquitetônico indiano e sua arquitetura volumosa, realçada pela alvura do mármore branco e refletente que o recobre, tem uma aura sensual compatível com as curvas da amada do imperador. A multidão de turistas indianos e de alguns estrangeiros que o fotografam de todos os ângulos parece perceber tal sensualidade e romantismo no equilíbrio das linhas.
Os melhores mármores, rubis e jades decoram o túmulo mais lindo e grandioso que alguém poderia ter. O mosaico de pedras preciosas é tão fino e detalhado que uma peça ornamental - uma flor, uma folha, uma voluta - pode ter até 70 pequenos fragmentos. E arquitetonicamente e ornamentalmente tudo se combina, integrando-se em perfeita proporção simétrica e agradável harmonia, como é próprio de uma obra prima. Mas beleza do conjunto só pode ser plenamente assimilada quando admirada de longe.
É assim que se revelam todos os seus efeitos visuais, desde a exemplar mistura de linhas horizontais, verticais, de retas e curvas, à combinação perfeita de cheios e vazios. Tudo parece resplandescer ainda melhor no mármore branco que produz grandiosos efeitos à luz natural.
O Xá e Mumtaz se apaixonaram à primeira vista quando tinham 15 anos e casaram-se aos 20, em maio de 1612, e por 19 anos foram inseparáveis e tiveram 14 filhos. Eles estavam juntos em uma expedição militar ao sul de Agra quando ela teve seu 14 º filho, uma menina, que tragicamente provocou sua morte aos 39 anos. E olhando para o Taj Mahal, conhecendo sua história, compreendemos porque dele sairam os mais penetrantes testemunhos que eternizaram esse amor:___________________________________________________
Elementos formais e decorativos do Taj Mahal
Os elementos formais e decorativos são empregues repetida e consistentemente por todo o complexo, unificando o vocabulário estético. As principais características do mausoléu refletem-se no resto da construção:
FONTE (Wikipédia)
Taj Mahal - Desenho esquemático dos elementos decorativos - FONTE: Wikipédia ______
Não é preciso ser arquiteto nem conhecer os aspectos relacionados ao equilíbrio e à simetria das boas formas arquitetônicas. As linhas do Taj são inquestionavelmente perfeitas, seja no equilíbrio, seja na beleza. Uma cúpula central rodeada por quatro outras menores, minaretes em cada uma das pontas de um quadrado imaginário, jardins ao seu redor afastando qualquer linha que possa agredir o equilíbrio de sua simetra, tudo forma uma composição magnífica refletida num grande lago. E tudo foi pensado pelo imperador para proteger sua amada após sua morte: os minaretes são discretamente inclinados para fora, para que no caso de um terremoto não caiam sobre o túmulo, talvez o mais impressionante segredo revelado com o tempo.Tudo parece tão extremamente belo, assentado sob um motivo tão digno e romântico, que dissimula até quase apagar a cruel realidade escondida por trás de cada pedacinho de mosaico aplicado, de cada retalho de mármore que reveste o magnífico Taj. Shah Jahan consumiu muito da riqueza do reino ao construir o monumento. O poder mogol estava em declínio e o imperador acabou afastando-se de suas atividades relacionadas com o Estado, o que possibilitou que seu filho Aurangzeb tomasse o poder e prendesse seu pai na torre do um Forte de Agra.
Mas há um outro lado - cruel e terrível - que se encerra em cada tijolo: contam que Shah Jahan mandou cortar todos os dedos das mãos de todos os operários da obra, para que ninguém a reproduzisse. História ou lenda, ninguém consegue afirmar. E mil elefantes foram necessários para trazerem os blocos de mármore com duas toneladas cada de pedreiras a 300 quilômetros de distância. E seu filho precisou assassinar seus irmãos que opunham-se ao golpe.
NOTA (*) do poeta indiano Rabindranath Tagore (1861-1941), que escreveu “O Taj Mahal é uma lágrima de amor na face da eternidade.”
Em 2001 a New 7 Wonders Foundation (www.new7wonders.com), elegeu algumas obras para serem eleitas os mais belos monumentos que aidna se podem ver. 90 milhões de pessoas votaram elegendo seus preferidos e as Pirâmides de Gizé passaram a ter o título de “maravilha” honorária.
O da esquerda é uma mesquita e o outro o jawab, isto é, o que não tem minarete, feito para equilibrar a composição, mas há registros históricos de que servia à hospedagem de convidados do xá. Os pisos do jawab são ornados com desenhos geométricos e os da mesquita com desenhos que representam os tapetes persar destinados à oração.
MEHTAB BAGH – A outra margem do rio _______________
Uma das vistas mais interessantes do mausoléu fica exatamente neste jardim, do outro lado do Rui Yamuna. Ali o silêncio parece adicionar imponência a uma das sete novas maravilhas do mundo, ainda que a sujeira do rio lhe subtraia beleza. (**)
Na margem norte do Rio Yamuna o jardim chamado Mehtab Bagh - ou Jardim da Lua Cheia - foi feito para lembrar um oásis florido e arborizado, com pavilhões sombreados, fontes e piscinas, fundamentalmente para protejer o Taj da expansão urbana ao seu redor. Atualmente se parece mais com um pomar do que qualquer outra coisa.
Os 25 hectares transformaram-se no modelo de um projeto para estabelecer áreas verdes de proteção em torno do Taj Mahal, tornando-se um magnífico jardim que usou uma tecnologia revolucionária de irrigação trazida do Irã. Segundo historiadores a grande piscina octogonal no centro do terraço serviu para refletir o mausoléu, mas segundo a cultura popular era onde as mulheres do reino iam banhar-se. Como decorrência das inúmeras inundações do rio, a estrutura remanescentes é bastante ruinapenas ruína, sendo que apenas uma das quatro torres de arenito que marcavam os cantos do jardim, continua parcialmente de pé, assim como outros vestígios de pavilhões e do aqueduto que alimentava o jardim.
http://interata.squarespace.com/jornal-de-viagem/2010/12/21/india-agra-o-taj-mahal-do-amor-eterno.html
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